Bruno Dornelles
Lifestyle • Politics • Culture
Eu não sei porque se doem os oportunistas. Eu só falei meia dúzia de coisas.
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Fracionamento, fetiche e afastamento da realidade

Um detalhe importante para quem vislumbra entender o que é uma guerra cultural: é impossível conseguir acompanhar os processos culturais ou mesmo uma simples obra de arte se você não está minimamente educado para ela. Essa educação nada mais é do que o resultado do amadurecimento de uma pessoa perante os quatro discursos de Aristóteles (poética, retórica, dialética e lógica) até que ela esteja minimamente educada nos dois primeiros e isso permita o próprio fortalecimento e abertura para as experiências reais - e até as mais penosas - que a vida pode lhe proporcionar, chegando daí a considerar o entendimento dos dois últimos.

Dito isso, percebam que “vida intelectual” e “formação do imaginário” são coisas que deveriam ser fundamentais na rotina e na vida de qualquer sujeito. Por outro lado, como tudo no Brasil - talvez por uma pressão muito grande do imediatismo comum e convencional - a coisa sempre fique fracionária, vire um fetiche e se torne distante de uma unidade e de seu real objetivo, que é o de aprimorar personalidades para que elas produzam frutos através da presença individual e de suas experiências mais altas.

No entanto, o que acaba se resultando é uma clara demonstração de que nossas reações não estão ainda maduras, que podem até ser o começo de algum esboço, mas que, precocemente exercidas antes mesmo do amadurecimento devido, apenas acabam se tornando a continuação da fraude de inteligência que hoje é mantida pelos sistemas acadêmicos e por partidos revolucionários, onde a experiência humana adquirida pelo aculturamento próprio é desprezada e a produção, o empilhamento de teses e a “vomitosfera” de tecnicismos é tida como um ouro a ser ostentado no próprio currículo lattes.

Ora, se a pessoa não entende minimamente como funciona o comportamento humano, como pode ela pode perceber as sutilezas e o lado bom (restante), por exemplo, do heroísmo e do amor, nas obras de Hollywood? Como ela pode perceber o processo de dramatização de uma trilha sonora que emociona e dá certa consolação humana, ou o que leva um sujeito a ser escravizado pelos próprios sentidos a ponto de realmente levar a sério o “senta, senta” da MC Pipokinha? Ou, mais importante ainda, como ela consegue entender o que leva um cidadão comum a conseguir se identificar humanamente com um movimento político que propõe a reação dos verdadeiros excluídos (cristãos, empresários, trabalhadores, pais e mães de famílias), enquanto os falsos excluídos (vagabundos, criminosos, estelionatários e, obviamente, elites dinásticas) ganham o poder e os massacram com as mordaças de discursos advindos do próprio poder?

Existe uma diferença enorme entre estar acima da cultura de massa e poder perceber ela a ponto de um dia operá-la por percepção de suas sutilezas e valores reais em comparação a simplesmente ser um simples espectador dela em busca de “diversão” e “emoção”. É, claro que diversão é conciliável, mas também não é fracionária e nem pode virar um fetiche.

A mesma lógica funciona se tudo que você vê é para a própria diversão e não para o alargamento de sua consciência. Quem consome muito lixo, será rebaixado e paralisado. Quem consome coisas boas, conseguirá sabendo distinguir verdade, beleza e deveres. A regra da realidade é clara, e quem dá as cartas para o jogo da própria vida continua sendo o protagonista dela própria, sob pena dele se tornar um coadjuvante tanto de narcisistas passageiros quanto de manipuladores sociais. Quando abrimos os olhos para vislumbrarmos o rebaixamento pela própria medida do controle alheio perante um sujeito, fica claro que as crises modernas ainda tendem a continuar por um bom tempo e que muita gente ainda precisa ser libertada no campo que propõe a ser a solução para os abismos revolucionários que propõem a instauração completa do reino do mal.

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